chapter 2
Essa cena teria sido muito fofa,
se, não tivesse se passado apenas na minha imaginação. Eu sei, desculpa. Mas,
eu estou contando tudo pra você. Inclusive, o que não contei pra ninguém.
Aliás, se eu vou te contar sobre a minha vida depois de ter conhecido o
Gabriel, acho que posso te contar um pouco mais sobre mim, afinal, isso vai te
ajudar a entender melhor algumas decisões que tomei.
Meu nome é Sofia Bittencourt
Borges, o mesmo nome da minha mãe. Meu pai decidiu colocar esse nome em
homenagem a ela. Infelizmente, ela morreu dois dias depois que eu nasci. O
motivo? Como meu pai costuma dizer... Erro médico.
12 anos atrás
— Sofia, por favor, não chore...
— Não consigo, papai... Elas
disseram que minha mãe morreu por causa de mim — disse em meio a lágrimas e
soluços.
— Eu já falei pra você que não
foi culpa sua. Por favor, pare de chorar. Você sabe que não gosto de te ver
assim — falou meu pai me puxando para os seus braços, que era o meu lugar
preferido na terra.
Meu pai sempre me disse que algumas
horas após meu nascimento minha mãe pegou uma infecção hospitalar. Os médicos
não sabiam exatamente o que a tinha causado, e decidiram seguir com um
tratamento, que, mais tarde, teve um resultado desastroso. A sua morte.
Não posso dizer que sinto a falta
da minha mãe, já que eu não sei o que é ter uma mãe. Meu pai fez o melhor que
ele pôde pra suprir essa ausência, e eu agradeço demais por isso. Mas, as
meninas da escola nunca perderam uma oportunidade de brincarem sobre o fato de
eu não ter uma mãe. Principalmente, sobre meu pai não ter se casado depois da
sua morte. E isso sempre me machucou.
Eu, claro, sempre fingia que não
estava ligando quando elas falavam alguma coisa, mas no fundo eu estava despedaçada
e aos prantos. E, quando, finalmente, chegava em casa colocava tudo pra fora.
Te contei essa história, porque
foi no meio de uma dessas provocações que eu conheci a minha melhor amiga
Bianca. Ela sem nem me conhecer, pois tinha acabado de entrar na escola, me
defendeu e literalmente bateu em uma das meninas, e, devo confessar, foi uma
das coisas mais emocionantes que alguém fez por mim. Depois da confusão fomos
juntas para a sala da direção. Saímos de lá juntas. E nunca mais nos
desgrudamos. O que nos leva a noite após o jogo...
— Você vai ter que me explicar
direitinho o que foi aquilo — exigiu Bianca após meu incrível silêncio após o
jogo.
— Explicar o que? — fingi um leve
desentendimento.
— Como você é sonsa! —respondeu
Bianca tentando não rir, e, fracassando.
Não tinha muito que contar.
Depois que a galera ficou com a gente na arquibancada não aconteceu
absolutamente nada. Sério! Eu e o Gabriel conversamos claro, mas não foi nada
de mais. Juro! E a Bianca sabia disso. E eu sabia que ela só queria falar sobre
a minha estúpida reação ao vê-lo, e em relação a isso, meu único desejo era
apagar.
— Não sei o que tenho que
explicar pra você. Não aconteceu nada — disse tentando fingir que não estava me
importando com nada.
— Sofia, eu te conheço muito bem.
Não adianta você bancar a sonsa comigo. Desembucha! Eu vi como você olhou pra
aquele menino. Como é o nome dele mesmo?
— Qual deles? — eu tentei de
todas as formas postergar o assunto.
Antes de responder, Bianca fechou
os olhos e respirou fundo.
— Eu juro que não te mato aqui e
agora, porque quero saber a resposta pra minha pergunta.
— Gabriel. E não aconteceu nada.
Você sabe disso.
— Sério!? Vocês ficaram
conversando durante o jogo... Pensei que, talvez, sei lá... — disse enquanto
levantava as sobrancelhas.
— Não aconteceu nada — repeti com
o humor alterado de mais.
— Nossa! Não precisava ser
grossa.
— Desculpa! — disse revirando os
olhos.
— Você não vai gostar de saber
então que amanhã a gente vai a um churrasco... — disse Bianca com desdém.
— A gente? Churrasco? Do que você
está falando? — perguntei completamente confusa.
— Uma das meninas chamou a gente
pra ir a um churrasco que eles vão fazer amanhã. E eu posso ter dito que nós
vamos — respondeu Bianca forçando um sorriso.
Ela sabia muito bem que as coisas
não funcionavam assim comigo. Sim, eu tinha 19 anos. Mas, eu precisava pedir o
meu pai pra poder sair. Parece idiota, eu sei. Entretanto, eu fui criada assim
e, sinceramente, não me importava de ter que pedir meu pai pra sair. E só foi
preciso um olhar pra ela saber o que eu estava pensando.
— Eu sei, eu sei... Eu vou passar
na sua casa agora e pedir o seu pai. Ele não pode negar isso pra mim. Certo?
— Você conhece muito bem o meu
pai. E sabe que se ele não quiser que eu vá, ele vai te dizer um não — falei
apenas pra lembrá-la o que não podia ser esquecido. Meu pai já tinha dito não
pra ela inúmeras vezes.
— Não custa nada tentar, né?
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